Um dos meus passatempos preferidos é elencar grandes divisões da humanidade, umas mais universais, outras mais circunstanciais ou mesmo insignificantes, assumindo que não é o seu valor em absoluto que está em causa.
Mac ou PC? Canon ou Nikon? Madrid ou Barcelona? Londres ou Paris? Em regra, quem gosta mais de Madrid gostará mais de Londres, e quem prefere o MAC ao PC terá uma CANON e não uma NIKON, e vice-versa para ambos os casos. Qualquer regra comporta, no entanto, possíveis combinações ou excepções, a começar por mim, que gosto mais do meu MAC mas prefiro a NIKON, bem como gosto mais de Madrid mas prefiro Paris a Londres. O objectivo deste exercício verdadeiramente inútil é tentar encontrar padrões de comportamento ou de personalidade através do cruzamento ou da análise individual de tendências idiossincráticas.
Uma das minhas divisões favoritas é a que se verifica entre aquelas pessoas que tiram o plástico e as que não o tiram. Comprou recentemente um telemóvel novo? Tirou imediatamente o plástico que envolve o ecrã? Em caso de resposta afirmativa, então é bem capaz de fazer amigos no avião, não levar para casa as ofertas do hotel, gesticular enquanto fala, ler o jornal do fim para o início, não pôr açúcar no café, ter apenas um telemóvel, nunca guardar facturas daquilo que compra, nunca fazer a mala um dia antes de partir e ser um dos felizardos que acorda sempre bem-disposto, apenas para expor algumas das minhas “grandes divisões”.
Tirar o plástico pode mesmo ter manifestações de grande dimensão, como aquelas pessoas que constroem uma casa gigantesca, mas vivem no anexo ao lado, para não a estragar. Estas pessoas não retiram o plástico das suas próprias casas e seguramente de todo o seu recheio, incluindo o microondas, a cama e de certeza que colocam a sua escova de dentes dentro de uma caixa de plástico depois de cada utilização. Terão também os sofás envolvidos em lençóis ou colchas de algodão (brancos!), para os preservar, e o sexo, escusado será dizer, também será às escuras, para protecção.
Não arrancar imediatamente o plástico, com lentidão e satisfação, como eu faço, pode ser considerado, contudo, com grande liberdade e tolerância de espírito, uma prova de autocontenção ou de autoconfiança, enfim, uma demonstração de profundo desprezo por uma película transparente que afinal não é assim tão importante. Para mim, no entanto, é como comprar um telemóvel e não o ligar, para não descarregar a bateria. Com a desvantagem de que uma bateria não deixa uma ponta irritante levantada que é um autêntico convite ao disparate.
Consciente da importância do plástico para estes defensores de armaduras para hardware, orgulho-me de já ter arrancado dois ou três plásticos a pessoas de quem não gostava. O resultado é garantido, uma espécie de vudu indirecto com consequências instantâneas.
E tu, já tiraste o plástico a alguém?