segunda-feira, 27 de abril de 2009

De repente, não mais que de repente






Publicada por Rui Hermenegildo à(s) 08:14 | 2 comentários  
quinta-feira, 23 de abril de 2009

Brasil em 3 Actos

Acto # 1

Acto # 2

Acto # 3
Publicada por Rui Hermenegildo à(s) 03:14 | 2 comentários  
terça-feira, 21 de abril de 2009

Kwaidan



Screenshot daqui.

Há filmes assim, que se nos colam à pele depois de terem estado em lista de espera durante meses, talvez anos, apesar das sucessivas recomedações de alguns amigos que são uma fonte inesgotável de curiosidades, para utilizar um eufemismo, como bem sabemos. Assim, Kwaidan, de Masaki Kobayashi (1916-1996), prémio especial do júri de Cannes em 1966, que aparece, onde mais poderia ser, na Criterion Collection.

Quatro histórias de fantasmas, segundo tradicões japonesas, com narrativas tão delirantes como intensas e um trabalho de fotografia e cenografia quase operático, que dificilmente classificaria de terror mas que, pelo menos, me vão deixar inquieto hoje à noite.

Só espero que não neve.



Keiko Kishi como The woman in the snow.
Publicada por Rui Hermenegildo à(s) 05:30 | 2 comentários  

Susanboylização




O mais recente vídeo viral, que conta já com mais de 70 milhões de visualizações, em menos de duas semanas (?), vem provar três coisas: primeiro, que as pessoas adoram que quem humilha seja humilhado; segundo, que preferem o talento anónimo ao institucional; terceiro, que a esperança vende, e muito.
Publicada por Rui Hermenegildo à(s) 01:18 | 3 comentários  
segunda-feira, 13 de abril de 2009

Irreparável

A minha exposição terminou ontem, dia de Páscoa, e só posso agradecer a todas as pessoas que me apoiaram e que a visitaram. De regresso do Brasil e ainda em Brazilian mood - mas isso fica para outro post - encontro na caixa de correio um valioso presente da minha amiga Helena Simões: um texto que fecha a exposição, tal como me havia prometido, e que aqui reproduzo integralmente. Obrigado, Helena, pelas palavras que tão bem sabes utilizar, mas sobretudo pelo teu "olhar" que consegue sempre encontrar mais naquilo que faço.

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IRREPARÁVEL*
como eu não sei rezar, só queria mostrar
meu olhar, meu olhar, meu olhar


Não, o belo não é óbvio. Nem evoca necessariamente a harmonia ou a pureza. Talvez convoque, sim, o absoluto, o uno. E revela a imanência. A imanência de algo a que (sabendo ou não) estamos ligados. Neste sentido, o belo é religioso porque re-liga. A revelação é feita através de uma fina passagem, uma porosidade, uma permeabilidade que pode acontecer, por exemplo, ao contemplar as fotografias desta exposição.

Não, não vale a pena ter cautela ou usar alguma outra rotina de distanciamento. Enquanto produzimos o inevitável julgamento estético, as protecções vão-nos sendo retiradas. As erudições, os conceitos, as definições. Permanece apenas o estremecimento. Mas é justamente aí, nessa suspensão, que desvelamos a imagem e acedemos à outra realidade – mais ampla? Mais luminosa?

Não, não é que não seja possível encontrar a narrativa de cada fotografia desta exposição. Podia acontecer que as narrativas se relacionassem numa arquinarrativa interminável, pois todas se gerariam. Mas podemos antes perseguir uma ideia que nos entregue uma das chaves que nestas fotografias abriu a passagem por entre a materialidade das coisas.
Toda a obra de arte é um tiro no véu da realidade. A bala atravessa (a dor d)as coisas e choca com um limite. No movimento do choque – por um instante – a fixidez da terra torna-se aérea ou fluida e é possível vislumbrar o contorno dessa coisa. Quebrar o aparente continuum de uma realidade sem fim. Interrogar o limite. Isso é uma exposição. Ou um abismo.

Nesta exposição há treze maneiras de chocar com as coisas, interrogar o limite e atravessar a dor. Primeira: não atravessar, mas ficar ao lado dela (Homem sem Qualidades, 2003). Segunda: partir à sua procura, como quem desce as escadas, com alegria (Quartier, 2008). Terceira: olhá-la estupefacto e vê-la a aproximar-se (S/Título, 2006). Quarta: esperar por ela (Boa Vista, 2006). Quinta: amá-la (Boa Nova, 2009). Sexta: carregar com ela, com fervor (Antígua, 2006). Sétima: fundir-se com ela (Avó, 2007). Oitava: manipulá-la (Joker, 2004). Nona: entregá-la ao destino (Playing, 2004). Décima: observá-la (Mata, 2008). Décima primeira: reconciliar-se com ela (Palermo, 2005). Décima segunda: levá-la consigo devagarinho e em silêncio (Commuters, 2005). Décima terceira: comungar com ela o mistério (Oração, 2003). Há ainda mais uma maneira: senti-la e sorrir (S/Título, 2005).

Chocar com o limite, atravessar a coisa, interrogar a dor.

Claro que tudo isto é uma interpretação privada, uma construção, uma ficção. Uma histerese.
Não, não vem no Dicionário Imperfeito da Agustina, mas isso é o menos importante porque a aproximação ao conceito é perfeita: “o laço da ficção que gera a expectativa é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo.” E isto podia ser uma variante de histerese.

Não, não nomeei a chave, mas creio que ela fica na intersecção entre o choque e o limite. O choque (o olhar) é vertical, o limite é horizontal, a sugerir a imagem da cruz... encontrei-a em todas as fotografias desta exposição, sem excepção. Irredutível. Do lado de cá, o fotógrafo está no ponto de conflitualidade essencial entre uma realidade velada à espera de ser revelada; o fotógrafo que está no ponto de encontro entre uma visão e a afirmação dela.

Não, não podemos sair sem celebrar a beleza (salvífica?) das fotografias desta exposição. Com Agamben, ao definir o amor (estará assim tão longe do belo?) “ver simplesmente algo no seu ser-assim: irreparável, mas nem por isso necessário; assim, mas nem por isso contingente”. Irreparável.

Helena Simões

* Para a exposição de fotografia – Histerese, de Rui Hermenegildo – Trem Azul Jazzstore, de 12 de Março a 12 de Abril de 2009.
Publicada por Rui Hermenegildo à(s) 17:53 | 1 comentários  
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