sexta-feira, 23 de abril de 2010
Manual de instruções
De acordo com o princípio de que tudo pode ser divertido, porque não redigir uma tese de doutoramento? Se algum dia isto lhe passou pela cabeça, então, é um caso perdido, mas não desista nem entre em pânico. Aliás essa é a primeira regra, a segunda e a terceira, nunca entrar em pânico. Se conseguir dominar estas três é muito provável que algum dia chegue a terminar. As instruções para o fazer são muito simples e não vale a pena procurar o livro do Umberto Eco, "Como se faz uma tese", pois não vai descobrir nada, desengane-se. Escrever uma tese de doutoramento é um mistério que nunca ninguém resolveu e por isso não vem com um manual de instruções. É como viver, mas por menos tempo; embora também possa ser uma forma de vida. Tal como nesta, a única coisa que vai aprender será a dominar a ansiedade e o medo. O medo de não conseguirmos, o medo de não sermos suficientemente inteligentes, enfim, o medo de um apagão informático. Não pense, no entanto, que não vai começar a construir algumas regras práticas de sobrevivência, que mais não são do que máximas de sabedoria invertida que vai repetindo à medida das circunstâncias. Por exemplo, se der por si a ler uma tese de doutoramento de alguém e a pensar que nunca vai conseguir escrever algo do género, não esmoreça, essa pessoa também pensou o mesmo. Se olhar para o lado na biblioteca e alguém estiver a escrever com violência, como se tivesse tido um ataque de inspiração, não tenha inveja, está a escrever este texto. Se começar a ouvir os barulhos do estômago das pessoas na sala, não perca tempo, vá tomar um café, pois já perdeu a concentração. Ou então, dirija-se à sala de fotocópias para praticar, pois será o único passatempo em que algum dia será mestre, se não o for já, entenda-se. Se der por si a ficar feliz por ter encontrado aquele livro que lhe faltava e que lhe vai facilitar as coisas, não tenha ilusões, apenas lhe vai abrir a porta para outras dimensões do problema, aquelas em que nunca tinha pensado e que lhe vão exigir ainda mais trabalho. Sim, porque escrever uma tese de doutoramento não tem fim, é apenas um interminável labirinto de ideias. Se der por si a gostar do que está a fazer, aí mude de plano, pois nunca vai mesmo terminar. Seja curto, seja directo, seja original, não brinque com o tamanho das letras a menos que sofra de miopia e, sobretudo, despache-se, pois há coisas muito mais interessantes para fazer.