Extra ecclesiam nulla salus
[Fotogramas de 8½ de Federico Fellini, 1963]
GUIDO Tu saresti capace di piantare tutto e ricominciare la vita daccapo? Di scegliere una cosa, una cosa sola, e di essere fedele a quella, riuscire a farla diventare la ragione della tua vita. Una cosa che raccolga tutto, che diventi tutto proprio perché è la tua fedeltà che la fa diventare infinita. Saresti capace? (…)
Federico Fellini dizia que este filme não era para entender, que era para sentir, que seria inglório tentar encontrar um fio condutor ou uma filosofia que lhe estivesse subjacente, que era apenas um filme sobre um realizador atormentado e em crise de identidade, enfim, sobre a vida que era para ser vivida e não pensada ou sequer explicada. Este diálogo, no entanto, entre Guido-Mastroianni e Claudia-Cardinale, para mim, contém toda uma filosofia da existência, uma chave de salvação que, por ser impossível de alcançar, ou pelo menos por mim, serve apenas de justificação para todos os nossos comportamentos. Guido dizia ao Cardeal, no início do filme, que não era feliz, ao que este lhe retorquia por que razão pretendia ele ser feliz. Extra ecclesiam nulla salus. Não existe salvação fora da Igreja, dizia-lhe o Cardeal. Não era na Igreja, seguramente, que Fellini procurava a salvação, mas porventura na abnegação e na capacidade de renúncia, e este diálogo é bem esclarecedor a este respeito. Todos somos confrontados com isto diariamente, com esta escolha de caminhos, mas nem todos temos a coragem de escolher apenas um, ou pelo menos em definitivo. Cláudia, na fonte, oferecia-lhe a água purificadora, mas Guido tinha medo. Cláudia repetia-lhe, “Não sabes amar, não sabes amar, não sabes amar”. E não sabia. Mas salvou-se.